Resenha: Branca como o leite, vermelha como o sangue

24 de maio de 2014


Autor: Alessandro D'Avenia
Páginas: 368
Editora: Bertrand Brasil
Classificação: 
Leo é um garoto de dezesseis anos como tantos, adora o papo com os amigos, o futebol, as corridas de motoneta, e vive em perfeita simbiose com seu iPod. As horas passadas na escola são uma tortura, e os professores, uma espécie protegida que você espera ver definitivamente extinta. Apesar de toda a rebeldia, ele tem um sonho que se chama Beatriz. E, quando descobre que ela está terrivelmente doente, Leo deverá escavar profundamente dentro de si, sangrar e renascer para a vida adulta que o espera. 
Branca como o leite, vermelha como o sangue é daqueles livros que te conquista pela capa e pelo título logo de cara. Com uma estética incrível, o conteúdo por dentro enriquece ainda mais a edição da editora Berdand Brasil.

Narrado em primeira pessoa por Leo, um garoto normal de dezesseis anos que nutre uma paixão platônica por Beatriz, uma linda garota ruiva, que mais tarde descobre estar com leucemia. O plot da história é bastante previsível, porém o que mais nos encanta é a forma poética que Alessandro D'Avenia guia seu personagem pelos caminhos do amadurecimento.

A poesia que cobre este livro é singelamente forte, como o título e as metáforas que o mesmo insere sobre o "branco" e o "vermelho", que é de uma beleza extraordinária. Vemos não só o amor de Leo por Beatriz e por seus cabelos vermelhos, mas também o desgosto do garoto pelo branco que ele nem mesmo considera uma cor.
"Cada coisa tem a sua cor. Cada emoção tem uma cor. O silêncio é branco. Na verdade, o branco é uma cor que não suporto: não tem limites. Virar a noite em branco; passar em branco; levantar bandeira branca; deixar o papel em branco; ter cabelo branco... Ou melhor, o branco não é sequer uma cor. Não é nada, é como o silêncio. Um nada sem palavras e sem música. Em silêncio: em branco. Não sei ficar em silêncio ou sozinho, o que dá no mesmo."
O escritor é bastante delicado ao tratar do assunto da doença de Beatriz. Ele nos apresenta uma personagem tão forte, que mesmo nos momentos de fraqueza da garota em relação a situação que está passando, é um empurrão para nós. Beatriz mesmo com seu sangue branco (metáfora usada pelo autor em relação a leucemia), com seus olhos verdes faz o nosso branco se tornar vermelho.

E acredite, Beatriz não é uma das minhas personagens preferidas deste livro, o que me fez gostar ainda mais do mesmo. Os personagens são tão bem construídos que é impossível ter apatia por alguns deles. Mas se for pra escolher um personagem preferido, a resposta eu já tenho na ponta da língua: Sonhador, o professor de filosofia substituto. É impossível não se apaixonar pelas lições dadas pelo professor que muito sonha. Não posso me esquecer de Silvia, uma personagem que mostrou força durante toda esta história.
"Permaneço fitando o céu em silêncio, com Silvia, que encaixa o rosto entre meu ombro e meu pescoço e os dedos entre meus dedos, como num quebra-cabeças perfeito. Tenho a impressão de que minha pele está coberta de mil pedacinhos coloridos. No fundo, toda a vida não faz outra coisa senão cortar pra gente uma roupa multicor, ao custo de muitas noites insones, noites de resquícios de outras vidas costurados juntos. Justamente quando nos sentimos mais pobres, a vida, como uma mãe, está costurando para nós a roupa mais bonita."
D'Avenia escreve de uma forma muito tranquila, fazendo que a leitura seja bem rápida e fluida. Os capítulos também são bem curtos o que ajuda bastante. É impossível deixar de mencionar mais uma vez a beleza da edição publicada aqui no Brasil pela editora Bertrand, que fez um excelente trabalho, não só na estética, mas também no tratamento do texto.

Se você é daquelas pessoas que gostam de marcar quotes bonitos em livros, é melhor comprar mais alguns pacotinhos de post-it, pois o que não falta é mensagem de tirar o fôlego. Por mais que muitos comparem a obra do escritor italiano com A Culpa é das Estrelas, não pegue para ler Branca como o leite, vermelha como o sangue com este pensamento, pois acredite, o livro de Alessandro D'Avenia em minha opinião é muito melhor que o aclamado best-seller americano.

No ano passado, 2013, uma adaptação cinematográfica foi estreada na Itália, com o mesmo nome da versão original italiana da obra, porém não chegou vir para o Brasil. Ainda não tive a oportunidade de assistir o mesmo, mas pelo trailer me parece bastante fiel a obra. Além deste romance, o escritor tem outro publicado, intitulado Coisas que ninguém sabe, também pela Bertrand. Com Branca como o leite, vermelha como o sangue você vai rir, chorar, ficar agoniado, e ter um trilhão de sentimentos; todos eles vermelho, pois Alessandro D'Avenia preenche todo o nosso branco.


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